- História, historiografia e o trabalho do historiador
Os documentos ou fontes históricas
No século XIX, quando a História foi estabelecida como uma ciência, os historiadores acreditavam que somente registros escritos, cuja autenticidade fosse confirmada, eram válidos para a historiografia. Esses documentos continham a verdade histórica e a função do pesquisador era, de certo modo, passiva frente a esses registros. Essa visão tradicional da História acreditava ainda que o historiador deveria selecionar e analisar o documento histórico de forma objetiva, isenta e com neutralidade. Tal concepção mudará radicalmente a partir da formação do grupo da Escola dos Annales, na França na primeira década do século XX.
Para os Annales, a Nova História resgataria o passado considerando problemas e demandas ligadas ao presente do historiador. Logo, a pretensa neutralidade do método tradicional ruiria, uma vez que as questões históricas suscitadas estavam conectadas com a realidade do próprio historiador impossibilitando a objetividade almejada pela História do século XIX.
A Nova História tem caráter interdisciplinar, ela é escrita em contato com outras ciências, como a arqueologia, a sociologia, a antropologia, a economia, a geografia entre outras. O conceito de documento ou fonte histórica foi ampliado e passaram à essa categoria quaisquer produtos resultantes das ações humanas em suas diversas formas.
Os principais tipos de fontes históricas são:
1. Fontes escritas: São os textos impressos, manuscritos, cartas, diários pessoais, jornais, revistas, escrituras de imóveis, documentos pessoais como Certidão de Nascimento e Documento de identidade.
2. Bens materiais: São os objetos utilizados pelos homens no cotidiano, como as roupas, móveis, as construções, as peças de cerâmica, moedas, armas, brinquedos, ferramentas etc.
3. Bens imateriais: tratam-se de conhecimentos, técnicas e tradições que os homens possuem, tais como as festas populares, receitas culinárias, técnicas artesanais, cantigas de roda, expressões típicas de determinadas regiões, enfim, as mais diversas manifestações da cultura popular.
4. Sonoras, visuais ou audiovisuais: oferecem informações ao historiador através do registro da imagem e/ou do som, por exemplo, músicas, pinturas, fotografias e filmes.
5. Fontes orais: constituem-se nas entrevistas e depoimentos de pessoas sobre acontecimentos, modos de vida e vários aspectos da história que os depoentes vivenciaram.
- Cuidados com uso dos documentos na sala de aula
- Aprender e viver a História
...continua a ser um espaço de enorme importância para amplos setores da população que não possuem biblioteca, laboratório e computadores em casa - a maior parte da população... Além disso, a escola se mantém como local para convívio multidisciplinar em torno dos saberes, garantindo oportunidades para a exposição e a solução de dúvidas, assim como para a apresentação de conquistas alcançadas por professores e alunos. (SILVA; FONSECA, 2010, p.30).
- Estudar História para quê?
"O letramento em História possibilita ao sujeito estabelecer uma interação mental durante as leituras das narrativas históricas com o conhecimento histórico já acumulado estabelecendo, assim, uma orientação temporal e permitindo a construção de novos significados" (PORTO, SILVA, 2012, p. 14).
Assim, estudar a História permite ao aluno desenvolver uma consciência histórica, a qual passa a fazer parte de sua vida. Com esse mecanismo mental, ele consegue, a partir das experiências do passado humano, compreender o presente e pensar o futuro.
- Novas abordagens históricas e as mudanças no Ensino de História
Na França, a partir de 1929 quando teve início a revolução historiográfica da Escola dos Annales, a pesquisa em história tornou-se interdisciplinar, passou a dialogar com a sociologia, geografia, economia e outras áreas do conhecimento. Além disso, as fontes se diversificaram. Se no século XIX a Escola Positivista priorizava os registros escritos e documentos oficiais, os Annales lançaram mão de vasta gama documental, que incluía os costumes, as tradições orais, fontes iconográficas e quaisquer textos relacionados ao objeto de estudo. As fontes passaram a ser problematizadas, indagadas pelo historiador que buscava extrair delas hipóteses, explicações e respostas sobre o passado. A verdade das fontes oficiais passou a ser questionada e relativizada pelas diferentes versões e interpretações históricas.
Fernand Braudel (1902-1985), um dos historiadores dos Annales, introduziu na História definições importantes sobre o tempo histórico. O acontecimento é um fato de breve duração; Longa duração: diz respeito às práticas que se estendem na linha do tempo, como por exemplo, as formas de escravidão ou a influência do cristianismo no Ocidente; Média Duração: corresponde à conjuntura, trata-se de eventos que ocorrem na estrutura, como a Revolução Industrial na Inglaterra ou a Ditadura Militar no Brasil.
Na Itália, na década de 1980, surgiu a micro-história, a partir das iniciativas dos historiadores Carlo Ginzburg e Giovanni Levi. Essa vertente historiográfica trabalha com microcontextos, pessoas anônimas que na História Tradicional eram desprezadas. A micro-história valoriza o dia a dia das pessoas comuns, os pequenos acontecimentos, sem contudo se esquecer do contexto maior, a macro-história. A micro-história é marcada
...por uma delimitação temática extremamente específica no espaço e no tempo. Nessa escala reduzida de observação, o processo de pesquisa se faz por meio de uma exploração exaustiva das fontes, envolvendo, muitas vezes, uma descrição etnográfica e uma narrativa literária. (PORTO, SILVA, 2012, p. 26).
Amélia Porto e Marco Silva (2012, p. 26), realçam que a renovação na teoria e no método da pesquisa histórica repercutiram no Brasil com a produção de trabalhos inovadores, que vislumbraram a história das crianças, das mulheres, da feitiçaria, da cultura, do cotidiano, da literatura, dos trabalhadores e das habitações. Entre os historiadores brasileiros desse importante segmento historiográfico podemos citar Laura de Mello e Souza, Mary del Priore, Nicolau Sevcenko e Sidney Chalhoub.
A partir daí multiplicou-se nas instituições acadêmicas estudos de História Regional, pela qual se busca "conhecer as especificidades da formação de cada estado como as delimitações territoriais, as transformações políticas, econômicas, culturais e sociais no decorrer do tempo" (PORTO; SILVA, 2012, p. 29). A História Regional e a História local passaram a ser reconhecidas e ganharam mais espaço no ensino de História, pois embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecessem temas comuns para todo o país, reservou uma parte diversificada para ser trabalhada em cada rede de ensino dos estados e municípios. Essa possibilidade permite ao professor estudar com seus alunos a História Local, possibilitando ao educando compreender a formação política, econômica e social da localidade e, sob a orientação do professor, relacioná-los aos processos ocorridos num contexto maior, em nível nacional.
Gradativamente, as novas pesquisas históricas foram sendo incorporadas nos livros didáticos e vem contribuindo para a renovação do ensino e da prática docente na Educação Básica. Hoje, os livros didáticos trazem várias fontes, propõe atividades diferenciadas, como pesquisas na internet, visitas à museus, coleta de entrevistas e convidam os estudantes a identificar mudanças e permanências, comparando e relacionando aspectos da sociedade em que vivem com aquelas que são estudadas nas aulas.
- A formação integral do aluno
- Avaliação em História
Referências bibliográficas
CANO, Márcio Rogério de Oliveira (Coord.) ; ALMEIDA, V. L. ; SILVA, R. S. ; FONSECA, V. A.; CANO, Márcio Rogério de Oliveira. A reflexão e a prática no ensino de História. São Paulo: Blucher, 2012.