domingo, 23 de março de 2025

Conheça um pouco da incrível engenharia dos Astecas

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Não é segredo para ninguém que os Astecas, povo que ocupou a região central do México entre o século XIII a XVI, eram hábeis construtores.



Graças à engenhosidade desse povo e à grande disponibilidade de mão de obra, tendo em vista que os astecas submeteram à servidão os povos vizinhos, foi possível construir canais, cidades, pirâmides e etc.

As construções dos astecas eram tão sofisticadas e grandiosas que deixaram os espanhóis ainda mais surpresos com a engenhosidade daquela civilização. Dois trechos de relatos dos conquistadores do Império Asteca no século XVI ajudam a entender o porquê do espanto dos europeus:

Relato de Hernán Cortez, comandante dos espanhóis, e do soldado Bernal Díaz.

Vamos conhecer um pouco mais sobre as obras desse povo?! Observe a seguir.

Chinampas (em nahuátl, chinamitl = muro, cerca de junco e apam = terreno plano).


Ilhas artificiais construídas com madeira, junco e cobertas com a lama do fundo do lago Texcoco. Nas chinampas os astecas encontraram uma alternativa à escasses de terras agricultáveis. Nessas ilhas, eles cultivavam flores e hortaliças. 


Tenochtitlán

Trata-se da capital do Império Asteca. Seu nome no idioma Asteca significa Tetl = pedra, Nochtli = tuna  o fruto do cacto e Tlan = lugar de. 



Localizava-se no território que, atualmente, compreende a Cidade do México. Foi fundada em 1325, numa ilha no lago Texcoco, e caiu em 1521, após ser tomada pelos espanhóis. Estima-se que, em 1519, a cidade contava com mais de 100 mil habitantes. A cidade possuía aquedutos que traziam água das montanhas para abastecer a população. 

O dia que os extremistas atacaram a sede dos Três poderes e sobrou até para o Di Cavalcanti...

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No dia 8 de janeiro de 2023 as sedes dos três poderes da República foram invadidas por vândalos que se recusavam a aceitar o resultado eleitoral. Houve depredações e grande prejuízo ao patrimônio público - um crime que merece ser punido com o máximo rigor da lei.



No Palácio do Planalto, onde fica o gabinete da presidência da República, um dos alvos dos vândalos e do fanatismo político foi um maravilhoso painel do artista Di Cavalcanti, a tela "As mulatas", pintada em 1962.

Os vândalos destruíram vidraças, móveis e equipamentos. Até a tela de Di Cavalcanti foi covardemente perfurada.

A obra é estimada em R$ 8 milhões de reais! Além do alto valor financeiro, a pintura possui grande relevância para a arte e a cultura nacional. Ela valoriza o Brasil multicultural, miscigenado e a herança africana. 

Di Cavalcanti foi um dos idealizadores da Semana da Arte Moderna juntamente com Oswald e Mário de Andrade. 
Emiliano di Cavalcanti (1897-1976).

Ele pintou os cartazes de divulgação do evento, realizado em 1922. 

O artista recebeu o apelido de "pintor das mulatas", pois em vários trabalhos destacou a sensualidade, a alegria e o amor feminino. 

Quem foi? Conheça a história do Marechal Rondon

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"Morrer se for preciso, matar nunca". Essa frase foi proferida pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958).

. O estado de Rondônia recebeu esse nome em homenagem ao militar, cuja ascendência era indígena.

. Rondon era um sertanista, isto é, pessoa dedicada a explorar os sertões do Brasil.

. Em 1890, Rondon fez parte da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas com o objetivo de estender as comunicações entre o Mato Grosso e o Rio de Janeiro.

. Em 1891, o trabalho da comissão havia sido concluído e alcançado a marca de 1574 KM de linhas telegráficas instaladas.

. Em 1899, Rondon obteve ajuda dos índios Bororo para instalar linhas telegráficas entre Cuiabá e Corumbá. Em troca do apoio recebido pelos índios, Rondon conseguiu, junto ao governo do Mato Grosso, o reconhecimento das terras que pertenciam aos Bororo.

. Rondon acreditava, a princípio, que os povos indígenas deveriam, de forma pacífica e voluntária, fazer parte da sociedade brasileira. Contudo, após ver como os índios eram maltratados por fazendeiros, garimpeiros e madeireiros, mudou de ideia e passou a defender o direito do índio de querer viver isolado, bem como a proteção das terras indígenas.



. O militar dirigiu o Serviço de Proteção ao Índio e, mais tarde, o Conselho Nacional de Proteção aos Índios. Idealizou o Parque Nacional do Xingu, inaugurado em 1961, após a morte de Cândido Rondon. 

. Ao longo de sua trajetória como engenheiro militar, Rondon percorreu um vasto território. Suas expedições ajudaram a interligar diversas cidades, através do telégrafo, bem como delimitar os 17 mil quilômetros das fronteiras nacionais com os demais países. Seu trabalho retificou o curso de rios e, graças a ele, 12 novos cursos d'água foram devidamente mapeados.


. Consta que, às vezes, punia com rigor e até com castigos físicos os seus comandados a fim de evitar atos de desobediência ou rebeldia.

. Em 1934, colaborou para a solução pacífica de um conflito entre Colômbia e Peru, os quais disputavam a posse de determinada região.

.  Ficou identificado pela luta que travou em prol dos direitos dos povos originários. 

. Em 1955  a Câmara dos Deputados lhe  conferiu uma promoção ao cargo de Marechal, a mais elevada patente hierárquica do Exército brasileiro. 

. Sua mentalidade pacifista fez com que seu nome fosse cogitado, duas vezes, ao Prêmio Nobel da Paz.

. Na última entrevista do Marechal, concedida em 1957, disse o seguinte a respeito do dever do Exército: "O Exército deveria ser o grande mudo, pronto ao sacrifício pelo bem da Nação, sem, contudo, intervir em mesquinhas questões de politicagem."

. Sua imagem de um patriota e defensor dos povos indígenas estampou selos e até cédulas da moeda corrente nacional.

Quem foi? Conheça a história de Leonel Brizola

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Itagiba de Moura Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922 no Rio Grande do Sul. 
 
Itagiba não gostava de seu nome e resolveu trocá-lo por Leonel, em referência ao líder Leonel Rocha o qual lutara pelos maragatos na Revolução de 1923. Ainda criança, Leonel de Moura Brizola perdeu o seu pai, assassinado pelas forças leais ao governador Borges de Medeiros. 

Brizola teve uma infância humilde, foi alfabetizado pela mãe e chegou a Porto Alegre em 1936. Graduou-se em Engenharia Civil em 1949. Casou-se com Neusa Goulart, irmã de João Goulart, o Jango, futuro presidente do Brasil. 

Filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e foi eleito deputado estadual em 1947. Em 1954, com a maior votação nacional (103.033 votos) elegeu-se deputado federal.  Em 1956, com o lema "Nenhuma criança sem escola" disputou e foi vitorioso na eleição para a prefeitura de Porto Alegre. Em sua gestão criou escolas e promoveu obras de saneamento nos bairros periféricos. 

Em 1958, Leonel Brizola foi eleito governador do estado e fez um governo revolucionário. Continuou priorizando a educação e confrontou as multinacionais que monopolizavam o setor de energia e de telecomunicações. Criou um dos primeiros projetos de reforma agrária do país, no qual incluiu sua fazenda, distribuindo mais de 600 lotes para os sem terra.

Com a renúncia do Presidente da República Jânio Quadros, em 1961, houve uma tentativa dos militares para impedir a posse do vice-presidente, Jango, que se encontrava na China em viagem oficial. 

Jango e Brizola se abraçam (1961).

Brizola passou a denunciar a tentativa de golpe pela Campanha da Legalidade, transmitindo discursos por rádio em todo o país. Ele também organizou uma resistência armada para resistir ao golpe e garantir a posse do vice. 

Com o golpe militar de 1964, Brizola seguiu para o exílio, primeiro no Uruguai e depois na Europa. Só retornou ao Brasil em 1979, após a aprovação da Lei da Anistia.

Fundou o Partido Democrático Trabalhista, o PDT, pelo qual se elegeu, duas vezes, Governador do Rio de Janeiro. 

Na eleição de 1982 ao governo estadual, Brizola venceu o candidato apoiado pelo regime militar e pela rede Globo. Houve tentativa de fraude para impedir a vitória de Brizola, no escândalo da Proconsult, mas com o apoio do Jornal do Brasil a farsa foi revelada e Brizola teve a vitória confirmada. 


Brizola pula sobre a fogueira de armas de brinquedo. As armas foram trocadas por livros. Conjunto habitacional em Coelho Neto. 1982.

No Rio de Janeiro Brizola construiu os Centro Integrados de Educação Pública (CIEP), oferecendo às crianças educação gratuita em tempo integral, atividades extracurriculares, esporte, alimentação e atendimento médico e odontológico. Acreditava que somente a educação de qualidade provocaria uma revolução social. 

Seu projeto de universalização da educação pública de qualidade enfrentou resistência de segmentos da elite. Parte da imprensa ridicularizava a iniciativa, mas Brizola não esmoreceu e construiu centenas de Brizolões por todo o estado do Rio de Janeiro.

Em 1989, na primeira eleição presidencial direta após a redemocratização do Brasil, Brizola participou e terminou em terceiro lugar. Disputou e perdeu mais duas vezes, na última, em 1998, concorreu como vice-presidente na chapa de Lula.


Faleceu em 21 de Junho de 2004 devido a um infarto. Seu corpo foi sepultado no Cemitério da Paz, em São Borja (RS), onde também estão enterrados Getúlio Vargas, João Goulart e a esposa de Brizola.

Algumas curiosidades a respeito da trajetória de Brizola

. Brizola teve importante participação no movimento pelas "Diretas Já", em 1984.
Brizola junto com outras lideranças num comício das "Diretas Já". 

. Ao todo, existem cerca de 500 CIEPs no estado do Rio de Janeiro.
. Os edifícios dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) foram projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

. O projeto de Educação Integral foi desenvolvido a partir das ideias do educador Anísio Teixeira e do sociólogo Darcy Ribeiro, que foi vice-governador na primeira gestão Brizola.
. Brizola construiu o sambódromo Marquês de Sapucaí em 1983.
. Atualmente, o PDT é presidido por Carlos Lupi, atual ministro da Previdência Social. O Partido disputou a eleição presidencial mais duas vezes, com Ciro Gomes, em 2018 e 2022.
Ciro Gomes, Carlos Lupi e Brizola

Profissão Historiador

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A profissão do historiador foi regulamentada no ano de 2020. O dia do historiador é comemorado em 19 de agosto. A data faz referência ao dia do nascimento do abolicionista Joaquim Nabuco.

A rotina de um historiador envolve muita pesquisa em documentos, como jornais, manuscritos, fotografias, filmes, gravações etc. O historiador lê, classifica, seleciona e interpreta os documentos e procura relacionar todas as informações colhidas para tentar compreender o passado.


Os documentos podem ser encontrados em diversos espaços, como bibliotecas, arquivos históricos, museus, em sítios arqueológicos e gravações com tomadas de depoimentos.

A pesquisa do historiador poderá se desdobrar em artigo científico, tese acadêmica ou livro. Nessas publicações, o profissional da história apresentará os resultados do trabalho, a metodologia utilizada, a síntese do pensamento de autores consultados e as fontes que foram investigadas. 

Os historiadores podem atuar tanto no setor público, quanto no privado ajudando a preservar registros do passado e a memória individual e coletiva. Seu trabalho pode ser requisitado por escolas, museus, empresas ligadas ao turismo e ao setor cultural.

sábado, 22 de março de 2025

Ensino de História: teoria e prática para professores e estudantes de História

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Este texto/resumo é resultado de diversas leituras que realizamos de livros sobre teoria e prática do ensino de História disponíveis na biblioteca da escola. Há rica bibliografia que pode auxiliar bastante professores de História, iniciantes e/ou veteranos e também estudantes que pretendem seguir a carreira do magistério a pretendem ter uma noção do fazer docente na atualidade.

Dessa forma, pretendemos contribuir para fornecer subsídios teóricos, práticos e metodológicos para nossos colegas leitores e interessados no assunto e, ao mesmo tempo, estudar temas basilares para o desenvolvimento de um bom trabalho em sala de aula.
  • História, historiografia e o trabalho do historiador
A história é a ciência que estuda as ações do homem no tempo. Essa definição é do mestre francês Marc Bloch (1886-1944). Quaisquer processos políticos, econômicos, culturais e sociais, desde os tempos mais remotos até os dias recentes, são tomados como objetos de estudo pelos historiadores, que são os profissionais dedicados à pesquisa e à produção do conhecimento histórico.

A produção histórica é chamada de historiografia. Para que ela aconteça é essencial que o pesquisador disponha de documentos, também conhecidos como fontes históricas. É a partir da investigação e análise das fontes que o historiador propõe perguntas, levanta hipóteses e busca respostas para compreender como se vivia no passado.  Há vários tipos de fontes, segundo suas características. Vejamos mais a respeito delas no item a seguir.

Os documentos ou fontes históricas

No século XIX, quando a História foi estabelecida como uma ciência, os historiadores acreditavam que somente registros escritos, cuja autenticidade fosse confirmada, eram válidos para a historiografia. Esses documentos continham a verdade histórica e a função do pesquisador era, de certo modo, passiva frente a esses registros. Essa visão tradicional da História acreditava ainda que o historiador deveria selecionar e analisar o documento histórico de forma objetiva, isenta e com neutralidade. Tal concepção mudará radicalmente a partir da formação do grupo da Escola dos Annales, na França na primeira década do século XX.

Para os Annales, a Nova História resgataria o passado considerando problemas e demandas ligadas ao presente do historiador. Logo, a pretensa neutralidade do método tradicional ruiria, uma vez que as questões históricas suscitadas estavam conectadas com a realidade do próprio historiador impossibilitando a objetividade almejada pela História do século XIX.

A Nova História tem caráter interdisciplinar, ela é escrita em contato com outras ciências, como a arqueologia, a sociologia, a antropologia, a economia, a geografia entre outras. O conceito de documento ou fonte histórica foi ampliado e passaram à essa categoria quaisquer produtos resultantes das ações humanas em suas diversas formas.

Os principais tipos de fontes históricas são:

1. Fontes escritas: São os textos impressos, manuscritos, cartas, diários pessoais, jornais, revistas, escrituras de imóveis, documentos pessoais como Certidão de Nascimento e Documento de identidade.

2. Bens materiais: São os objetos utilizados pelos homens no cotidiano, como as roupas, móveis, as construções, as peças de cerâmica, moedas, armas, brinquedos, ferramentas etc.

3. Bens imateriais: tratam-se de conhecimentos, técnicas e tradições que os homens possuem, tais como as festas populares, receitas culinárias, técnicas artesanais, cantigas de roda, expressões típicas de determinadas regiões, enfim, as mais diversas manifestações da cultura popular.

4. Sonoras, visuais ou audiovisuais: oferecem informações ao historiador através do registro da imagem e/ou do som, por exemplo, músicas, pinturas, fotografias e filmes.

5. Fontes orais: constituem-se nas entrevistas e depoimentos de pessoas sobre acontecimentos, modos de vida e vários aspectos da história que os depoentes vivenciaram. 
  •  Cuidados com uso dos documentos na sala de aula
Os documentos, registros, vestígios históricos são imprescindíveis ao trabalho do historiador e também dos docentes. Porém, o uso dos documentos em sala de aula requer alguns cuidados.

A respeito do documento histórico Jacques le Goff nos ensina que ele é:

"... resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente da história, da época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou continuou a viver talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio". (LE GOFF, 2003, p. 538).

O documento não pode ser tratado como algo neutro , que fala por si só ou como mero exemplo elucidativo de todo um período histórico. Ele não revela a verdade sobre o seu período histórico, pois expressa um ponto de vista de determinado grupo que o produziu. 

O historiador precisa problematizar até o fato de ter tido acesso a certos registros históricos, pois em algum momento decidiram preservá-lo. Alguém, no passado, escolheu conservar certos registros, em detrimento de outros. O mesmo ocorre no presente, quando o historiador opta pelo assunto sobre o qual quer pesquisar, seleciona um a outro documento, pois não sendo um agente social neutro, tais escolhas, conscientes ou não, revelam as preferências pessoais.

Quando o professor escolhe um documento ele deixa de trabalhar com outros, por isso, há intencionalidade em sua ação pedagógica. Sendo um documento incapaz de revelar toda a verdade de sua época, o professor precisa estimular e incentivar um trabalho crítico com a fonte histórica. Nesse sentido, proponho questões para serem respondida pelos alunos, como:

. Por que será que as pessoas optaram pela preservação de tal documento? Qual intenção elas teriam nessa atitude?
. O que pretendiam transmitir à posteridade?
. O documento foi produzido por quem? Ele revela o ponto de vista de todos os grupos sociais ou apenas de certos grupos? 

  • Aprender e viver a História
A aprendizagem ocorre a todo instante e em qualquer lugar. Segundo Vygotsky, ela é resultado das relações humanas estabelecidas em diversos espaços sociais. A partir da interação entre as pessoas construímos e reconstruímos aspectos da cultura.

Entretanto, o papel da escola na construção e difusão dos saberes não pode ser menosprezado. De acordo com pesquisadores do ensino de História, a instituição escolar 

...continua a ser um espaço de enorme importância para amplos setores da população que não possuem biblioteca, laboratório e computadores em casa - a maior parte da população... Além disso, a escola se mantém como local para convívio multidisciplinar em torno dos saberes, garantindo oportunidades para a exposição e a solução de dúvidas, assim como para a apresentação de conquistas alcançadas por professores e alunos. (SILVA; FONSECA, 2010, p.30).

O ensino de História atual não se limita a reproduzir o conhecimento produzido pelos historiadores e acadêmicos, consolidados em manuais didáticos. O trabalho do professor vai além da mera reprodução, junto com os alunos, o docente produz novos conhecimentos a partir da vivência e experiência de seus alunos e da comunidade, na qual a escola está inserida.

Nesse sentido, os trabalhos de história regional e local, além do resgate da memória, são ferramentas essenciais para a construção dos novos saberes envolvendo diversos agentes que assumem protagonismo na escrita da História.

  • Estudar História para quê?
A disciplina História está inserida na base nacional curricular e tem como um de seus principais objetivos contribuir para a formação cidadã do indivíduo, visando sua atuação numa sociedade plural, que requer respeito, tolerância e convivência democrática.

Para que a formação significativa ocorra, não apenas na disciplina de História, mas em qualquer outra área do saber, é necessário uma pré-condição: o letramento.

De acordo com a professora Magda Soares, letramento "é o estado ou a condição cognitiva adquirida pelos indivíduos que lhes possibilita exercer práticas de leitura e escrita de acordo com as necessidades demandadas socialmente" (PORTO, SILVA, 2012, p.12).

Letramento em História: constrói estruturas mentais nos indivíduos que lhes possibilitam compreender situações sociais que demandam o domínio do conhecimento histórico. Mais do que acumular fatos objetivos, a consciência histórica permite ao aluno fazer uma leitura crítica da realidade que o cerca, como por exemplo, os eventos e as comemorações cívicas nacionais (proclamação da república, feriado de Tiradentes, abolição da escravatura, dia da Consciência Negra entre outros).

"O letramento em História possibilita ao sujeito estabelecer uma interação mental durante as leituras das narrativas históricas com o conhecimento histórico já acumulado estabelecendo, assim, uma orientação temporal e permitindo a construção de novos significados" (PORTO, SILVA, 2012, p. 14).   

Assim, estudar a História permite ao aluno desenvolver uma consciência histórica, a qual passa a fazer parte de sua vida. Com esse mecanismo mental, ele consegue, a partir das experiências do passado humano, compreender o presente e pensar o futuro.

  • Novas abordagens históricas e as mudanças no Ensino de História
Atualmente, o ensino de História se difere bastante da forma como a disciplina era ministrada até a década de 1980 nas escolas, quando se privilegiava a memorização de datas, fatos, grandes acontecimentos e o culto aos "heróis" nacionais.

Na França, a partir de 1929 quando teve início a revolução historiográfica da
 Escola dos Annales, a pesquisa em história tornou-se interdisciplinar, passou a dialogar com a sociologia, geografia, economia e outras áreas do conhecimento. Além disso, as fontes se diversificaram. Se no século XIX a Escola Positivista priorizava os registros escritos e documentos oficiais, os Annales lançaram mão de vasta gama documental, que incluía os costumes, as tradições orais, fontes iconográficas e quaisquer textos relacionados ao objeto de estudo. As fontes passaram a ser problematizadas, indagadas pelo historiador que buscava extrair delas hipóteses, explicações e respostas sobre o passado. A verdade das fontes oficiais passou a ser questionada e relativizada pelas diferentes versões e interpretações históricas.

Fernand Braudel (1902-1985), um dos historiadores dos Annales, introduziu na História definições importantes sobre o tempo histórico. O acontecimento é um fato de breve duração; Longa duração: diz respeito às práticas que se estendem na linha do tempo, como por exemplo, as formas de escravidão ou  a influência do cristianismo no Ocidente; Média Duração: corresponde à conjuntura, trata-se de eventos que ocorrem na estrutura, como a Revolução Industrial na Inglaterra ou a Ditadura Militar no Brasil.  

Na Itália, na década de 1980, surgiu a micro-história, a partir das iniciativas dos historiadores Carlo Ginzburg e Giovanni Levi. Essa vertente historiográfica trabalha com microcontextos, pessoas anônimas que na História Tradicional eram desprezadas. A micro-história valoriza o dia a dia das pessoas comuns, os pequenos acontecimentos, sem contudo se esquecer do contexto maior, a macro-história. A micro-história é marcada 

...por uma delimitação temática extremamente específica no espaço e no tempo. Nessa escala reduzida de observação, o processo de pesquisa se faz por meio de uma exploração exaustiva das fontes, envolvendo, muitas vezes, uma descrição etnográfica e uma narrativa literária.  (PORTO, SILVA, 2012, p. 26).    

Amélia Porto e Marco Silva (2012, p. 26), realçam que a renovação na teoria e no método da pesquisa histórica repercutiram no Brasil com a produção de trabalhos inovadores, que vislumbraram a história das crianças, das mulheres, da feitiçaria, da cultura, do cotidiano, da literatura, dos trabalhadores e das habitações. Entre os historiadores brasileiros desse importante segmento historiográfico podemos citar Laura de Mello e Souza, Mary del Priore, Nicolau Sevcenko e Sidney Chalhoub.

A partir daí multiplicou-se nas instituições acadêmicas estudos de História Regional, pela qual se busca "conhecer as especificidades da formação de cada estado como as delimitações territoriais, as transformações políticas, econômicas, culturais e sociais no decorrer do tempo" (PORTO; SILVA, 2012, p. 29). A História Regional e a História local passaram a ser reconhecidas e ganharam mais espaço no ensino de História, pois embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecessem temas comuns para todo o país, reservou uma parte diversificada para ser trabalhada em cada rede de ensino dos estados e municípios. Essa possibilidade permite ao professor estudar com seus alunos a História Local, possibilitando ao educando compreender a formação política, econômica e social da localidade e, sob a orientação do professor, relacioná-los aos processos ocorridos num contexto maior, em nível nacional. 

Gradativamente, as novas pesquisas históricas foram sendo incorporadas nos livros didáticos e vem contribuindo para a renovação do ensino e da prática docente na Educação Básica. Hoje, os livros didáticos trazem várias fontes, propõe atividades diferenciadas, como pesquisas na internet, visitas à museus, coleta de entrevistas e convidam os estudantes a identificar mudanças e permanências, comparando e relacionando aspectos da sociedade em que vivem com aquelas que são estudadas nas aulas.

  • A formação integral do aluno
Os conteúdos escolares devem visar, além do ensino com propósitos acadêmicos, a formação integral do indivíduo. Tendo em vista esse objetivo, o pedagogo espanhol Antoni Zabala considera a existência de três aspectos ou conteúdos: conceituais, procedimentais e atitudinais. 

Os conteúdos conceituais tratam dos conceitos históricos que o indivíduo deve saber. Os procedimentais relacionam-se ao saber fazer, como a realização de pesquisas e a interpretação de textos e imagens. Atitudinais mostram como o aluno pode ser, agindo segundo valores importantes para o bom convívio social, como o respeito pela diversidade cultural, a tolerância, o diálogo e a defesa da justiça.

Portanto, o ensino deve estar atrelado ao desenvolvimento desses três conceitos, os quais são essenciais para o desenvolvimento intelectual e social do educando.

  • Avaliação em História
Avaliar, atualmente, vai muito além de verificar se o aluno é capaz de reproduzir oral ou textualmente as ideias e conceitos trabalhados na sala de aula.

A avaliação deve levar em consideração todo o processo de ensino-aprendizagem, com isso não pretendemos minimizar a importância das provas e testes tradicionais. Contudo, outros instrumentos avaliativos podem fazer parte do planejamento e da rotina do docente, tais como apresentação de trabalhos, produção de relatórios etc.

Em suma, a avaliação sendo processual deve ser vista como contínua e cumulativa. Seus resultados devem ter clareza para mostrar ao aluno o conhecimento consolidado e/ou que precisa ser trabalhado; ao professor ela possibilita autorreflexão sobre a prática docente. Aqui, cabem algumas indagações: os resultados obtidos pelos alunos estão dentro do esperado? O que eu posso fazer diferente? Estamos no caminho certo? Que estratégias de ensino devo adotar para tentar um resultado melhor? 

Referências bibliográficas

CANO, Márcio Rogério de Oliveira (Coord.) ; ALMEIDA, V. L. ; SILVA, R. S. ; FONSECA, V. A.; CANO, Márcio Rogério de Oliveira. A reflexão e a prática no ensino de História. São Paulo: Blucher, 2012.

LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Unicamp, 2003.

O mais célebre de todos os Urupês

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Segundo o Dicionário Aulete, on-line, urupê é um "Fungo sapróbio da fam. das poliporáceas (Pycnoporus sanguineus), que se desenvolve sobre troncos caídos e cujo corpo de frutificação é semicircular, vermelho-alaranjado; ORELHA-DE-PAU".


O urupê é bastante comum em áreas úmidas e de vegetação abundante, como matas e bosques de regiões de clima tropical. Assumindo formato de orelha, ele cresce sobre o tronco de madeira,  alimentando-se de matéria morta. Sua presença pode servir como um indicador de saúde, ou falta dela, no estado físico das árvores.

Embora tenha uma função biológica e, portanto, um papel a cumprir na natureza, o urupê se tornou conhecido e famoso no país, sem dúvida, após 23 de dezembro de 1914, quando Monteiro Lobato publicou um artigo, intitulado Urupês, nas páginas do jornal O Estado de S. Paulo.

O texto tratava sobre o caboclo, uma das raças que compunham a nacionalidade brasileira que existia “a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé”[1]. A publicação causou alguma repercussão sendo inclusive reproduzida em outros periódicos assegurando notoriedade ao escritor paulista, além de reconhecimento no círculo cultural da elite de São Paulo. Em Urupês, Lobato, fugindo da tradição romântica e ufanista [2] do início do século XX, que sob pretexto do nacionalismo, idealizava o caboclo e seu estilo de vida, adota um viés realista, denunciando o estado de isolamento das populações sertanejas, abandonadas à própria sorte pelos bacharéis da república. Em tom caricatural, ele descreveu o Jeca Tatu, doente, racialmente incapaz de progresso, que vivia a vegetar de cócoras, e nesse aspecto compara, de modo mais evidente, o homem ao fungo.  Tal como o urupê que nada produzia, pois alimentava-se da matéria que extraía da madeira, o Jeca não lavrava, não construía era o "sacerdote da Grande Lei do Menor Esforço", apenas sobrevivia, parasitando aqui e acolá, acocorava-se. 

A ideia de escrever sobre esse personagem não surgiu num passe de mágica, ela foi resultado da experiência dos anos em que Lobato morou na fazenda Buquira, no Vale do Paraíba, deixada como herança do avô, onde pode observar os hábitos do povo do interior - os caipiras.  A esse respeito, na medida em que as ideias iam surgindo elas "amadureciam, resultavam em contos maciços, carregados de sua revolta e, consequentemente, de críticas."[3]. O trabalho que marcou sua iniciativa de escrever sobre o homem do campo veio com a publicação de uma queixa no jornal, em 12 de novembro de 1914, Uma Velha Praga. Por meio dela, o autor denunciava a prática das queimadas imputando ao caboclo a autoria do delito, que devastava a natureza e trazia enormes prejuízos. Nesse texto, também utilizou o recurso da metáfora, comparando a ação do caboclo a do piolho. O parasita provocava a “pelada” no couro cabeludo, o caboclo era o “piolho da terra” que despojava o solo de sua cobertura natural com os incêndios.
Em correspondência enviada à Rangel, em 22 novembro de 1914, Lobato dava indícios do artigo que viria no jornal do mês seguinte: “Outro feto que já me dá pontapés no útero é a simbiose do caboclo e da terra, o caboclo considerado o mata-pau da terra: constritor e parasitário, aliado do sapé e da samambaia, um homem baldio – inadaptável à civilização.”[4].   

Na carta, Lobato narra a relação parasitária estabelecida entre o homem e o meio, uma simbiose, que resultava na devastação da terra pelo "mata-pau".  Assim, o caboclo, pintado nas linhas de Lobato, "é o urupê de pau podre que vegeta no sombrio da mata".[5] Nessa concepção, o Jeca era nocivo à natureza, pois ele colocava fogo na mata, arrancava a cobertura original do solo e destruía o húmus e os seus sais mineiras, aí estava, portanto, o culpado pelas desgraças locais! 
Entretanto, esse pensamento não foi exclusivo do autor, ele era compartilhado pelas elites locais, senhores de terras e cafeicultores decadentes, insatisfeitos com os infortúnios econômicos que lhes abatiam, responsabilizavam os "jecas" pelo empobrecimento da região. Sendo assim, desconsideravam o processo histórico de ocupação das terras do Vale as quais, desde o final do século XIX, davam sinais de esgotamento devido a alguns fatores, como a monocultura predatória, a falta de investimentos em novas técnicas de cultivo, a ausência de mão de obra qualificada, e a instabilidade do mercado que fazia o preço do café flutuar. Enquanto essa região definhava, outra despontava,  era o Oeste paulista, novo eixo agrário-exportador, onde havia a linha férrea, o imigrante europeu e a fértil terra roxa.



O emprego da palavra "Urupês" por Lobato, contudo, ocorreu pela primeira vez anos antes de publicar seu referido artigo. Quando ainda vivia em Areias, cidade do interior do estado paulista, atuava como Promotor público quando decidiu advogar por uma causa, "a primeira e única que se tem notícia de suas atividades como bacharel em Ciências Jurídicas."[6] Na causa, Lobato defendia uma firma, da qual o autor cobrava o pagamento de uma dívida. Foi no dia 18 de novembro de 1907, que no texto da defesa, Lobato utilizou a expressão urupê, vocábulo que lhe trará reconhecimento alguns anos mais tarde, nas razões da peça jurídica, alegando que "os absurdos (contidos nas acusações aos seus clientes) brotarão como urupês em pau podre, após um dia de chuva" [7]. Entretanto, o encontro de Lobato com essa espécie do reino fungi, provavelmente, se deu em sua infância, por volta dos cinco anos de idade, quando acompanhava o seu pai em caçadas na floresta. Seu biógrafo oficial narrou assim as impressões que a experiência causou em Lobato: "O sombrio da mata, aquêle frescor úmido, os troncos musguentos que lhe pareciam gigantescos, a cipoama enredada, o silêncio..." [8] (grifos nossos). Eis aí o primeiro contato de Lobato com a natureza, que deixou marcas profundas em sua alma tanto marcou sua obra, adulta e infantil. Mesmo quando adulto, Lobato deve ter continuado a se deparar com os urupês quando fazia incursões à Serra da Bocaina, para abater jacus, enquanto esgueirava-se entre o mato e os galhos seria possível observar a forma curiosa de uma "orelha" que crescia às custas da seiva de uma árvore. Tais encontros devem ter inspirado a metáfora e reforçado a ideia do autor de comparar a vida do campônio à daquele fungo em seus registros posteriores. 

Depois de usá-la no seu texto de 1914, a expressão foi evocada pelo escritor novamente em 1918, dando nome ao seu primeiro livro de contos, editado pela Revista do Brasil. A ideia inicial do título era “Dez Mortes Trágicas”, mas o autor foi aconselhado pelo amigo Artur Neiva, médico sanitarista, a trocar-lhe o nome por Urupês A obra se tornou uma campeã de vendas e, entre o ano de seu lançamento a 1925, esgotou 30 mil exemplares, popularizando ainda mais o autor e o seu célebre personagem - o Jeca.

Capa de 1918, ilustrada por J. Wasth Rodrigues.

O livro obteve grande repercussão, não só entre os letrados, mas também entre o meio político. No meio literário, vários escritores publicaram trabalhos questionando o "tipo" fixado pelo Jeca e criticando Lobato, acusando-o de antinacionalista [9]. Na esfera política, as reações também foram diversas e provocaram acalorados debates entre parlamentares. O deputado cearense Ildefonso Albano, por exemplo, criou o Mané Chique-Chique, que para ele era como uma "rocha viva da nacionalidade", o oposto do Jeca. No Sul, havia o Jeca Leão, figura descrita por Rocha Pombo "cheia de inúmeras virtudes e de nenhum defeito." [10] Até o oposicionista Rui Barbosa, na campanha presidencial de 1919, lançou mão da imagem do Jeca em um de seus discursos para atacar o modus operandi da república  no seu trato com o povo interiorano [11]. O fato é que o personagem literário tornou-se um símbolo da nacionalidade na medida em que logrou êxito ao se contrapor à visão romântica da população sertaneja, oriunda de uma tradição ufanista que idealizava o caipira. Apesar do personagem literário ter sido originado de "um olhar patronal, desabafo do fazendeiro frustrado e insatisfeito, ou sendo uma sátira de intenção desmistifcadora, ou mesmo as duas coisas juntas, o Jeca tatu se constitui no registro hiperbólico, mas autêntico, de facetas do caipira que não deixavam de trazer sua verdade."  (LEITE, 1996, p. 78).  Sendo o Jeca uma construção caricatural, ela serviu para desmascarar e denunciar uma forma de vida negligenciada e com costumes considerados impróprios para setores de uma elite que anseava pela modernização do país e das relações de trabalho. Mesmo que, a princípio, a reflexão proporcionada por ela se detivesse apenas sobre a apresentação do problema, sem se preocupar as causas, isso será superado posteriormente, quando o seu criador irá repensar a personagem a partir da identificação dos motivos que lhe afligiam.

Desde a divulgação do artigo em 1914, o Jeca Tatu de Urupês, passou a representar toda uma população sertaneja, interiorana, e tornou-se uma bandeira do movimento em prol do saneamento das áreas rurais brasileiras, onde grassavam as doenças que impediam o progresso nacional. Se inicialmente o caboclo era visto como racialmente inapto para o trabalho e para o desenvolvimento, Lobato mudou sua concepção do sertanejo após ter contato com as prédicas médico-científicas, em 1916, resultado da campanha do saneamento do Brasil, que diagnosticou os brasileiros como um povo doente. Por isso, seu criador afirmou posteriormente que "o Jeca não é assim, está assim", referindo-se ao seu estado fúnebre. A medicina convencera Lobato de que o Jeca era incapaz não por sua origem racial mestiça, mas porque estava "provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte." [12]

Constatado que o problema do povo era a doença, Lobato engajou-se na campanha sanitarista, principalmente, pela imprensa, tornando público um debate acadêmico - o saneamento rural. A partir daí, usou o Jeca que virou garoto propaganda de remédio, o tônico Fontoura, depois o personagem passou à cartilha para escolas e para crianças, na tentativa de modificar os maus hábitos dos brasileiros do campo, como por exemplo, o de andar descalço,  deixando os pés desnudos em contato com a terra e vulneráveis à contaminação por bactérias. 

Almanaque do Biotônico, 1935 (Ilustração: J.U.Campos). Site invivo.

Em suma, o personagem foi transformado num instrumento de catecismo a favor do sanitarismo e do higienismo defendidos pelas elites médicas e intelectuais do país. A obra Urupês continuou a ser editada por muitos anos, reforçada, posteriormente, por produções no cinema e na televisão, o que contribuiu para cristalizar a figura do Jeca no imaginário das pessoas. Até os dias de hoje, o Jeca continua alimentando causos e estórias na cultura popular, fazendo parte de festejos e celebrações que ocorrem por todo o país, como as festas juninas, nas quais são realizadas o casamento do Jeca. 


O personagem promoveu uma associação, de forma generalizada e talvez equivocada, entre a população rural e a ignorância e ao atraso, mas serviu para denunciar o abandono e o pouco caso dos governos com a saúde pública e os sertões do Brasil. Também alçou Monteiro Lobato a um patamar atingido por pouquíssimos escritores - a aceitação e preferência do público, além de garantir sua imortalidade na literatura nacional.




[1] LOBATO, MONTEIRO. Urupês. São Paulo: Globo, 2009. p. 169.
[2] Lobato acusava os autores românticos de idealizarem e desnaturalizarem o caboclo e o mundo rural, pois esses escritores escreviam da cidade e estavam afastados da realidade do homem do campo.
[3] GARCIA, Juliana Cristina. Monteiro Lobato: contista e editor. 2013. 150 p. Dissertação de mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós-Graduação em Literatura. Florianópolis, SC, 2013. p. 86.
[4] LOBATO, MONTEIRO. A barca de Gleyre. São Paulo: Globo, 2010. p. 293. 
[5] CAVALHEIRO, EDGAR. Monteiro Lobato: vida e obra. São Paulo: Companhia Distribuidora de Livros. 1955, p. 177.
[6] Idem, p. 135.
[7] idem. p. 136.
[8] idem, p. 18-19.
[9] É o caso d crítica do Sr. Leônidas Loiola, que escreveu "essa campanha sistemática de depreciação e ridículo do homem e das coisas do Brasil" (CAVALHEIRO, 1955, p. 207).
[10] idem, p. 211.
[11] “Senhores: Conheceis, porventura, o Jeca Tatu, dos Urupês, de Monteiro Lobato, o admirável escritor paulista? Tivestes, algum dia, ocasião de ver surgir, debaixo desse pincel de uma arte rara, na sua rudeza, aquele tipo de uma raça que, “entre as formadoras da nossa nacionalidade”, se perpetua, “a vegetar de cócoras, incapaz de evolução e impenetrável ao progresso”? Rui Barbosa. “A questão social e política no Brasil”, conferência pronunciada no Teatro Lírico do Rio de Janeiro a 20 de março de 1919. Campanha Presidencial. Obras completas de Rui Barbosa, Volume XLVI 919, Tomo I. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1956, p. 63.
[12] Prefácio da Quarta edição de Urupês, 1918.

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